Beata Francisca do Coração de Jesus Aldea Araujo
Filha de Paulo e Narcisa, nasceu em Somolinos, Diocese de Sigüenza-Guadalajara (Espanha), no dia 17 de dezembro de 1881. Órfã de pai e mãe, desde criança foi acolhida como interna no Colégio Santa Susana, das Irmãs da Caridade do Sagrado Coração de Jesus, em Madrid. Aos dezoito anos, no dia 8 de dezembro de 1899, ingressou no Noviciado desse Instituto e emitiu os votos temporários em 1903. Fez seus votos perpétuos em 1º de novembro de 1910.
Depois de receber o título de professora na Escola Normal de Toledo, dedicou parte de sua vida ao ensino (até 1916) e às atividades apostólicas que acompanham a vida do magistério. Desempenhou posteriormente outros cargos de responsabilidade no Instituto: superiora local, conselheira, secretária e economia geral. Quando estalou a perseguição religiosa, ela exercia o cargo de Administradora-Geral, com residência no Colégio Santa Susana.
Era generosa e alegre, humilde e alma delicada. Destacou-se por seu amor ao Coração de Jesus e a Maria SSma. Embora temesse uma possível morte diante do rumo que tomavam os acontecimentos, confiou que Deus lhe daria forças se lhe pedisse o martírio. Com um “até o céu” se despediu das Irmãs ao sair do colégio a caminho da morte.
Beata Rita Dolores do Coração de Jesus Pujalte Sánchez
Nasceu em Aspe (Alicante), no dia 18 de fevereiro de 1853, filha de Antônio Pujalte Anton e de Luísa Sanchez Almodóvar, uma família cristã e abastada. Seus anos de infância e adolescência foram marcados por forte religiosidade, dedicava-se à catequese e às obras de caridade.
Em 1888 ingressou no Instituto das Irmãs da Caridade do Sagrado Coração de Jesus, fundado em 1877 por Madre Isabel Larrañaga, no qual desempenhou os cargos de mestra de noviças e de segunda superiora, depois da Venerável fundadora. Fez sua profissão religiosa em 21 de junho de 1890; tempos depois emitiu seus votos perpétuos.
Destacou-se pela solidez de sua fé, caridade, espírito de oração e no trato humano. Com paciência suportou uma doença no ocaso de sua vida e a cegueira, tendo sido ajudada até o fim pela Beata Francisca Aldea Araujo, que fora discípula de Madre Rita quando esta era mestra de noviças.
O martírio
Durante a perseguição religiosa levada a cabo na guerra civil espanhola de 1936-1939, as duas foram presas e fuziladas. Naquele período a Igreja pagou um enorme tributo: foram assassinados sete mil entre religiosos, religiosas e sacerdotes.
As duas religiosas tinham passado parte de suas vidas no Colégio de Santa Susana e juntas saíram dele para percorrer um caminho que as converteria em testemunhas de sua fé. O colégio ficava no Bairro das Ventas, então uma das zonas suburbanas de Madrid. Este colégio acolhia, além das religiosas, meninas pobres e órfãs. Embora a situação fosse extremamente perigosa em meio a um ambiente geral de tensão, a comunidade optou por permanecer no colégio para atender as meninas.
Madre Rita Dolores em várias ocasiões fora convidada a deixar o colégio e procurar por um lugar mais seguro, mas segundo sua lógica, ela perdia mais que ganhava e sempre recusava. Madre Francisca, movida por sua caridade, se comprometeu a não abandoná-la, estando consciente do risco que assumia.
No dia 20 de julho de 1936 o colégio foi assaltado e alvo de tiroteio. Segundo testemunhas, tanto Rita Dolores como Francisca, quando souberam que a chegada dos milicianos era eminente, se dirigiram para a capela para preparar-se para o martírio; perdoaram antecipada e generosamente seus verdugos e se dispuseram para a morte, que pressentiam certa, se colocando nas mãos de Deus. “Coloquemo-nos em seus braços e que seja feita a sua santíssima vontade”, disse Madre Rita Dolores.
Na portaria, momentos antes de sair, recitaram o Credo na presença dos milicianos, que as acompanharam até a casa de uma família conhecida. Por volta do meio-dia foram conduzidas violentamente para o interior de uma camioneta. Elas foram levadas para Canillejas, um subúrbio da capital, e ali foram fuziladas no mesmo dia, às 15h. Madre Rita tinha 83 anos e Madre Francisca 55 anos.
Os médicos que fizeram a autópsia no dia seguinte ficaram maravilhados, porque as Servas de Deus conservavam os membros flexíveis, como se tivessem acabado de morrer, e emanavam um perfume muito intenso e agradável.
Logo a fama de seu martírio foi divulgada. Testemunhas presenciais se maravilharam com a serenidade de seus rostos e do perfume que se desprendia de seus restos mortais. Por toda parte deixaram a marca de santidade e de humildade. Foram coerentes até o fim no caminho escolhido para fazer o bem ao próximo.
Em 1940 seus corpos incorruptos foram encontrados e exumados, contribuindo para que se difundisse a fama do martírio e se pensasse na introdução da causa de Beatificação. Os restos mortais dessas duas Religiosas repousam agora na Capela do Colégio das Irmãs dessa Congregação em Villaverde, perto de Madrid.
A beatificação
A quando da cerimônia de beatificação, o Santo Padro afirmou que estas religiosas — Madre Rita Dolores Pujalte e a Madre Francisca Aldea — que “pertenciam à comunidade do Colégio de Santa Susana, de Madrid, das Irmãs da Caridade do Sagrado Coração, haviam decidido permanecer no seu lugar apesar da perseguição religiosa desencadeada naquela época, para não abandonarem as órfãs que eram por elas ali assistidas”.
“Este heroico ato de amor e entrega abnegada” — continuou o Sumo Pontífice — “custou a morte à Madre Rita e à Madre Francisca que, embora estivessem enfermas e fossem idosas, foram capturadas e mortas a tiro. O supremo mandamento do Senhor tinha-se arraigado profundamente nelas durante os anos da sua consagração religiosa, vividos em fidelidade ao carisma da Congregação”.
O Santo Padre termina a sua homenagem nestes termos: “Elas alcançaram o martírio crescendo no amor pelos necessitados, que não cede diante dos perigos e, se for necessário, não evita o derramamento do próprio sangue. O seu exemplo constitui uma exortação a fim de que todos os cristãos amem como Cristo ama, não obstante as grandes dificuldades”.
Corajosas, elas “seguiram Jesus fielmente, amando como Ele até ao fim e padecendo a morte pela fé”.
Elas foram beatificadas em 10 de maio de 1998 no Vaticano, pelo Papa João Paulo II. Vários habitantes de Aspes se encontravam presentes, inclusive parentes de Madre Rita Dolores, como, por exemplo, Angel Maria Boronat Calatayed, que havia intervindo no ato de beatificação.
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