Uma meditação sobre a oração do PAI NOSSO
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 6, 7-15)
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras.
Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.
Este Evangelho, nos apresenta a oração que o próprio Filho de Deus ensinou a seus discípulos e deixou como herança à sua Igreja: o “Pai-Nosso”.
A meditação desta poderosa oração daria um belo retiro de trinta dias!
Ele começa aquecendo-nos o coração com uma confiança plena: “Pai-nosso que estais nos céus”, e os céus onde Deus está são também o nosso coração, se estamos em estado de graça. O Pai está muito perto de nós.
O “Pai-Nosso”, com efeito, contém ao todo sete pedidos, dos quais os três primeiros, “mais teologias” (CIC, 2803), são também os mais importantes. Essa divina oração, colocando-nos na presença do Senhor, começa com uma profissão de fé: “Pai nosso, que estais nos céus”. Logo em seguida, fazemos a primeira petição: “Santificado seja o vosso o nome”. Desejamos aqui que Deus seja conhecido e glorificado por todos, a começar por nós mesmos; trata-se, noutras palavras, de reconhecermos em Jesus Cristo o verdadeiro Deus — o único que é perfeitamente santo — e de querermos dá-lo a conhecer a muitas outras almas.
Depois vêm os sete pedidos: “Santificado seja o vosso nome”. Precisamos recordar-nos de louvar a Deus. A primeira coisa a ser feita na oração é louvar, agradecer e adorar a Deus por sua imensa majestade, dar-lhe graças pelos imensos benefícios que nos concede; mas isso não é possível sem a virtude da fé. Para santificar o nome de Deus, é preciso exercer a fé agradecendo e adorando a Deus.
A esse ato inicial de fé sucede um ato de esperança, expresso na segunda petição: “Venha a nós o vosso Reino”.
Pelo primeiro pedido manifestamos, pois, nossa fé em Deus; pelo segundo, o nosso desejo de participar da sua vida divina. Rogamos ao Pai que nos faça partícipes do seu Reino, que não é deste mundo (cf. Jo 18, 36) e cujas portas nos fazem entrar na eternidade. Cristo nos ensina, portanto, a necessidade de suplicarmos pela nossa salvação. Quando dizemos “Venha a nós o vosso Reino” também não deixamos de manifestar a nossa esperança escatológica pela “vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de Cristo” (CIC 2818); é, por assim dizer, o grito Marana Tha! que nós, membros da Esposa de Cristo, dirigimos todos os dias a Jesus, Esposo de nossas almas.
Aqui, nossa esperança se alarga pelo fato de haver um lugar para nós no céu. Há quanto tempo não rezamos por nossa salvação e pela das pessoas a quem amamos?
O terceiro pedido do “Pai-Nosso”, por sua vez, traduz um profundo ato de caridade: o “Seja feita a vossa vontade…” deve exprimir a nossa disposição interior para tudo fazermos conforme o beneplácito do Pai. O nosso amor a Deus, de fato, deve levar-nos a pensar primeiro n’Aquele a quem amamos, a queremos fazer antes o que é do agrado do Pai. Pois amamos a Deus por meio do cumprimento dos seus Mandamentos e pela observância filial de tudo quanto Ele nos quis revelar. Vemos aqui com que sabedoria Cristo nos entregou essa oração; já nos três primeiros pedidos o Senhor nos dá a oportunidade de crescermos na fé, na esperança e na caridade — os três eixos de toda vida espiritual, sem os quais é impossível chegar à perfeição no amor e à santidade a que Deus nos destina.
Fazer a vontade de Deus é ter caridade, é amar, é unir a nossa vontade à de Deus. Mas como é possível que nós, palhas, nos unamos ao fogo, sem arder em chamas de imensa caridade? Mudemos de vontade. Se sabemos rezar direito, mudamos de cabeça. Ninguém vai rezar sem querer mudar. Não rezamos para mudar a vontade de Deus, mas a nossa.
Ciente porém de nossa radical indigência, Cristo também nos ensina a pedir o “pão nosso de cada dia”. Estão aqui englobadas todas as graças de que precisamos para progredir nas três virtudes teologias. Nesse sentido, o “pão nosso” significa, sobretudo, o “pão espiritual” a que nossa alma aspira e de que tanto necessita em sua caminhada rumo ao Céu: o pão da Palavra, dos Dons do Espírito Santo, das virtudes infusas, bem como de cada uma das graças sacramentais, que fazem o amor de Deus circular em nosso organismo espiritual. Esse pedido, é claro, também se refere a tudo quanto é necessário ao nosso sustento, àqueles bens materiais que, sem nos afastar da meta em direção à qual temos de correr, são úteis à manutenção de nossa vida material. Libertando-nos das inquietações e preocupações desse mundo passageiro, o Senhor quer que nos confiemos à Providência de nosso Pai celestial, que sabe de antemão todas as coisas de que necessitamos (cf. Mt 6, 32).
Depois, vêm pedidos negativos.
O maior obstáculo à nossa salvação é o pecado: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, ou seja, é preciso livrar-se dos próprios pecados. Já fomos nos confessar? É Quaresma. Estamos em estado de graça? Peçamos perdão de nossos pecados. Esse é o verdadeiro e grande obstáculo que nos impede de ir para o céu.
Ora, uma vez que pedimos perdão dos pecados, começa a batalha, a batalha contra a tentação: “E não nos deixeis cair em tentação”. Deus não prometeu que seria fácil. Ele gosta de ver-nos lutar, porque quem não luta por nada não amada nada. Mas Deus quer que o amemos; portanto, existe a luta contra a tentação.
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Eis o sétimo e último pedido: “ Mas livrai-nos do mau”. Antes de tudo, livrai-nos do maligno, porque Satanás não tem outra coisa que fazer. Somos nós que descansamos e, às vezes, nos esquecemos de Deus, o diabo porém não se esquece nunca: ele está o tempo todo prestando atenção, porque sua única missão é levar-nos para o inferno, enquanto a nossa única missão é, obedecendo ao nosso santo anjo da guarda e abrindo-nos à graça de Deus, alcançada por tantos santos intercessores e merecida por Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, a nossa única missão é ir para o céu.
GIULIANE MATOS
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