Santa Clara de Assis, a dama dos pobres – 11 de Agosto
Santa Clara de Assis
PADROEIRA DA TELEVISÃO
Clara nasceu em Assis em 1194, duma nobre família, provavelmente no dia 11 de Julho, filha de Favorino, dos Scifi, e de Ortolana, dos Fiume, oriunda de Sterpeto.
Os Scifi pertenciam a mais alta aristocracia de Assis, Favorino, que tinha o título de conde de Sasso Rosso, era cavaleiro. Aliás, todos os seus parentes buscavam a carreira das armas. Ortolana, muito piedosa, dedicada às boas obras, teve cinco filhos: um homem, Bosone, e quatro mulheres, Peneda, Clara, Inês e Beatriz. Da mãe de Santa Clara conta-se que tinha feito várias peregrinações, como a de Bari e a da Terra Santa.
Estando para dar à luz a filha, rogava a Deus com instância para que tudo lhe corresse bem. Ouviu, então, uma voz que lhe disse:
– Não temas. Darás ao mundo uma luz que o iluminará. Por isso, chamarás Clara à menina.
Clara, luminosa e ilustre, cresceu na casa de Assis, cercada de conforto. Desde a infância, foi caridosa para com os pobres e aplicada à oração. Conta-se que, não tendo com que contar os Padre-Nossos e as Ave-Marias que rezava, e queria saber quantos diria, lançava mão de pedrinhas.
Sob os ricos vestidos, usava cilício, um rude cilício de pelos bastantes ásperos. Aos quinze anos, era alta e bela, recolhida e silenciosa, de lindos cabelos loiros.
Resolveram os pais, um dia, casá-la. Entre os muitos pretendentes, um, especialmente, era do agrado de Favorino e de Ortolana. Falaram, a respeito, com a filha, e muito surpresos ficaram com a firme resposta da linda jovem.
Clara não queria ouvir falar em casamento, e, como a mãe entrasse a atormentá-la com perguntas buscando a razão da obstinada negativa, a filha revelou-lhe que se consagrara a Deus e estava firmemente disposta a jamais conhecer homem algum.
Tendo ouvido falar de Francisco, filho de Pedro Bernardone, convertido bruscamente em 1208, e que agora levava vida à imitação de Jesus Cristo, Aquele que nem sequer tinha uma pedra onde pudesse repousar a cabeça, sentira-se tocada.
Tendo restaurado as
capelas de São Damião, de São Pedro e de Santa Maria dos Anjos, ao lado da qual se estabelecera com alguns companheiros. Francisco, de volta a Roma, em 1211, com autorização pontifícia para pregar, acendeu no coração de Clara o mais vivo desejo de ouvi-lo e vê-lo.
Logo todos ouviram-no a predicar a quaresma. E a jovem filha de Favorino e Ortolana, desde o primeiro instante em, que relanceou os olhos no Pobrezinho de Assis, sentiu que a vida que ele levava era justamente a vida que a ele destinava a vontade de Deus.
Ora, dois frades, Rufino e Silvestre, ambos pertencentes à família de Clara, propuseram-se a pô-la em contato com Francisco, e, um belo dia, a jovem, acompanhada, como convinha, duma parenta, a qual tradição chamou de Bona Guelfucci, eis a jovem, ardentemente, diante do filho de Barnardone.
Francisco, duns tempos àquela parte, já havia ouvido falar de Clara, e resolveu “roubar ao mundo mau tão nobre presa, como diz a legenda, para com a jovem enriquecer o divino Mestre. Assim, ele logo se pôs a aconselhá-la, francamente, para que desprezasse o mundo, aquele mundo vão e transitório, para que resistisse aos pais e conservasse o corpo como um templo só para Deus e a não ter outro esposo senão a Nosso Senhor Jesus Cristo”.
São Francisco, desde então, tornou-se o guia, o pai espiritual de Santa Clara, que, sentindo-se muito segura de si, ia preparando o terreno para o grande dia, o dia em que se daria totalmente para as coisas de Deus.
O grande dia chegava. A 18 de Março de 1212, Domingo de Ramos, de manhã, foi à igreja, com a mãe, as irmãs e as mulheres que habitualmente as acompanhavam. E, enquanto as outras se apressavam a receber os ramos, Clara deixou-se ficar no seu lugar, por modéstia. E o bispo, descendo do altar, veio oferecer-lhe o ramo, como um presságio da vitória que ia obter sobre o mundo.
Na noite seguinte, preparou a fuga, seguindo a ordem de Francisco, mas, como o exigia a decência, fazendo-se acompanhar. Saiu secretamente de casa. Deixou a cidade e tomou o rumo de Santa Maria dos Anjos, onde os irmãos, que cantavam as matinas, receberam-na à luz de grandes archotes.
Diante do altar da Rainha das Virgens, Francisco cortou-lhe os cabelos, os “belos cabelos loiros”, e a revestiu com o hábito de penitência. Em seguida, Clara, comovidamente, pronunciou o voto de pobreza e de castidade.
Tudo o que trouxera consigo e era precioso, distribuiu-o aos pobres. E Francisco, também comovido, levou-a imediatamente a um mosteiro de religiosas de São Bento, em São Paulo de Assis, onde a deixou. Clara contava, então dezoito anos.
O refúgio da filha de Favorino não tardou a ser descoberto. Tendo fugido de casa por uma porta que vivia quase sempre fechada, Chamada Porta da Morte, porque por ali é que saiam os que morriam, Favorino logo deu pela coisa, já que uma pilha de lenha, então contra a porta, fora completamente arredada.
Descoberto, pois o paradeiro da filha, o pai com alguns parentes, foi ter com ela, para trazê-la de volta para casa.
A Clara que Favorino encontrou foi uma Clara absolutamente adversa daquela antiga jovem obediente que conhecia muito bem: resoluta e irredutível agora, de nada valeram, para demovê-la daquela vida nova que pretendia levar, as promessas e as ameaças. Empregaram, então, a violência, mas Clara, desvencilhando-se das mãos do pai, correi para junto do altar da igreja e ali tirou o véu que lhe cobria a cabeça, a todos mostrando-a raspada, dando a entender que, para todo o sempre, dera solene adeus ao século.
Francisco, como as tentativas de Favorino para recuperar a filha se repetissem, resolveu transferi-la para outro convento, em que a jovem se visse mais resguardada. Foi assim que Santa Clara passou a Santo Angelo de Panzo, também das beneditinas.
A cólera de Favorino, quando soube que dezesseis dias depois da fuga de Clara também Inês lhe fugia, para ir ao encontro da irmã, chegou ao auge, Noiva já, com dia do casamento marcado, eis que, louca, deixara os pais, deixara os seus, a bela casa e as belas relações, para viver como a irmã vivia, longe de tudo e de todos.
Fremente, o pai rogou a Monaldo, tio de seus filhos, que arranjasse muitos homens armados e, a todo custo, trouxesse Inês de volta.
Monaldo, e os homens que reunira, chegou às portas do convento, fingindo que vinha em paz. Queria somente que as freiras lhe entregasse a jovem que fugira da casa paterna e nada mais. Contudo, conforme a resposta, usariam a força.
As freiras de Santo Angelo ficaram, diante daqueles homens armados, tomadas do mais vivo pavor, e prometeram entregar-lhes a moça Inês sem tardança. A filha de Favorino, porém, resistiu: ali estava, viera para ficar e não se iria, de forma alguma.
Então inopinadamente, um dos homens, com um salto, apoderou-se dela, furioso ante as negativas da moça, e pôs-se a esbordá-la, a despedir-lhe rudes pontapés, entrando a puxá-la pelos cabelos, Não ia de bom aviso? Iria por mal!
Inês, arrastada pelo caminho, prorrompia em brados chamando a irmã em socorro. Pobre Clara, delicada! Que poderia fazer? Que força opor à bruta força daqueles homens? Somente Deus, que tudo pode, socorreria a boa Inês. E Clara, na sua singela celazinha, toda no ardor da fé, enquanto a irmã, arrastada, de vestes rasgadas, toda esfolada, ia sendo conduzida para Assis, rogou a Deus que viesse, benigno, em auxílio de duas pobres e frágeis mulheres.
Eis senão quando, os robustos homens vitoriosos sentiram que uma força estranha não mais lhes permitia arrastar a levíssima filha de Favorino. Pesada, como se fora de chumbo, não conseguiram, por mais força que empregassem, puxá-la um centímetro sequer. Debalde, os brutos sacudiram-na, malharam-na, tentaram erguê-la, fazer, enfim, qualquer coisa.
O tio Monaldo, encolerizadíssimo, aproximou-se da sobrinha. Mirou-a, os olhos fuzilando, e, tomado por uma fúria sem par, levantou o braço, o punho enluvado de ferro, para golpeá-la.
Quando foi descê-lo com toda a força, no rosto da sobrinha, não o conseguiu. Petrificara-se todo, o tio Monaldo, De braço alevantado, de punho ameaçador erguido, era bem, todo ele, uma estátua do furor mesclado à surpresa. Que lhe sucedia?
Depois da ardente oração, Clara deixou a cela e desceu. Aproximou-se dos homens, tomou Inês para si, protetoralmente, e o tio, com os seus, abismados e surpresos, deixaram-nas em paz, indo-se para Assis.
Desde aquele dia, Favorino e a família não mais se intrometeram na vida das duas moças, permitindo-lhes que vivessem a vida que tanto desejavam viver, mas sabiam os Scifi e os Fiume que, mais tarde, Beatriz havia de reunir-se às duas irmãs consagradas a Deus, bem como Ortolana.
Joergensen conta-nos assim o fim da santa fundadora das pobres clarissas:
Ao contrário de Francisco, por mais rígida que fosse a sua vida, Clara chegou à velhice; morreu aos sessenta anos, depois de quarenta e um de vida monacal. Este longo período foi enchido por acontecimento inolvidável: a morte de São Francisco em 1226.
Quando, percebendo estar perto de morrer, Francisco fez-se levar lá para baixo, para a Porciúncula, e estendeu-se na caminha na sua pobre celinha, Clara mandou dizer-lhe que folgaria de poder tornar a vê-lo ainda uma vez. Mas, como resposta, o Santo disse a um dos frades:
– Vai dizer a irmã Clara que ponha de lado toda tristeza. Neste momento é impossível que ela venha ver-me. Mas dize-lhe que pode estar certa, tanto ela, como as outras freiras de que tornarão a ver-me antes de sua morte, e se acharão com isso grandemente confortadas.
Decorridos poucos dias, Francisco morreu. Mas, no dia seguinte à sua morte, os habitantes de Assis vieram buscar-lhe os despojos corporais e, juntamente com os frades, transportaram-nos para Assis, no meio de hinos e cantos de louvor, e de sons de trombetas, levando todos os componentes do cortejo uma tocha acesa e um ramo de oliveira. E, quando, ao raiar daquela manhã de outubro, enquanto as névoas de prata ainda vagavam pelo vale e lhe davam o aspecto de um mar imenso, o fúnebre cortejo atingiu as colinas de São Damião, já iluminadas pelo sol, parou e o corpo foi levado para a igreja e depositado tão perto da grade das freiras, que estas puderam ver, pela última vez, seu pai espiritual, como este lhes prometera. E os frades que carregavam o corpo tiraram fora a grade, através da qual as servas do Senhor costumavam receber a Santíssima Eucaristia e escutar a palavra de Deus, e soergueram do ataúde aquele corpo venerável, e mantiveram-no sobre os braços, diante da janela, tão longo tempo quanto, para conforto seu, podiam desejá-lo irmã Clara e as outras monjas – como nos conta o Speculum Perfectionis (Cap. CVIII, Cf. a Vita Prima de Celano, c. X: Esta cena piedosíssima, passava-se no atual coro dos frades em São Damião, no fundo do qual ainda é visível abrindo=se uma portinha do respaldo – a janelinha pela qual as pobres mulheres de São Damião puderam beijar as chagas santíssimas do seu pranteado Mestre. (Cavanna, ap. cit., p. 107)
Depois, a igrejinha ressoou de tristes lamentos e de ternos adeuses, de prantos e de soluços, porque, como diz São Tomás de Celano, “quem não ficaria comovido até as lágrimas, se até mesmo os anjos da paz choravam amargamente?
Os anos passaram, e Clara vivia sempre. Francisco se fora, mas os seus amigos íntimos, Leão, Angelo, Frei Junípero, iam frequentemente a São Damião, e Clara entretinha-se de bom grado a falar com eles, do tempo em que vivia o seu amado mestre. Também Frei Egídio, que, aliás, segundo a expressão de Berbardo de Quintaval, “deixava-se ficar continuamente recluso na sua cela como uma virgenzinha na sua câmara”, ainda ia de vez em vez visitar Clara. Ora, numa destas visitas sucedeu uma cena que merece ser narrada, porque saturada de verdadeiro espírito franciscano.
Um franciscano inglês, doutor em teologia pregava em São Damião, e os seus discursos eruditos eram mui diferentes dos discursos ali outrora pronunciados por Francisco. Todos notavam a diferença, quando, de repente, do fundo da igreja, Frei Egídio levantou a voz e clamou:
– Cessa de falar, mestre, porque quero pregar eu!
Logo o doutor inglês se calou, e Egídio falou, todo inflamado do espírito de Deus, diz-nos a antiga legenda. Quando acabou, tornou a dar a palavra ao pregador estrangeiro, que pode terminar o seu sermão. Mas Clara confessou, depois que isso que sucedera a alegrara mais do que se ela tivesse visto ressuscitar um morto: Porque era desejo de nosso pai Francisco que um doutro em teologia se humilhasse tanto a ponto de consentir imediatamente em se calar, quando um frade leigo manifestasse a vontade de pregar em lugar dele. (Acta SS. Abril, III, p. 239; Vita de F. Egídio, c. XII e LVIII).
Chegou finalmente, o momento em que também irmã Clara ouviu o convite de irmã Morte. Desde que havia vinte e oito anos, ela, por assim dizer, nunca cessara de ser atormentado pelo mal. E, no outono de 1252, pareceu estar bem compenetrada do seu fim. Contudo, a grande missão de sua vida ainda não estava totalmente cumprida. Clara ainda não obtivera a confirmação explícita e absoluta do seu Privilégio de Pobreza.
Por aquela época, de Lião, para onde tivera de fugir, expulso para ali pela soldadesca de Frederico II, Inocêncio IV retornou à Itália. Em 1250, esse imperador, excomungado, morreu em Fiorenzola; e, em setembro de 1252, pode o Papa estabelecer-se livremente em Perúsia. Ora, havendo-se a corte pontifícia estabelecido pacificamente na cidade umbra, o cardeal Rinaldo, o futuro Papa Alexandre IV, que então era o sustentáculo e o defensor das clarissas, foi a São Damião. De própria mão deu a comunhão à irmã Clara; e ela, aproveitando aquela visita, conjurou o cardeal a conseguir do Papa a confirmação do seu privilégio.
No verão de 1253, o próprio Papa, com a corte, foi a Assis, para ali visitar Clara, enferma. Quando esta lhe pediu a sua benção, a indulgência plenária e a remissão total dos seus pecados, Inocêncio suspirou:
– Oxalá, filha não tivesse eu, mais do que tu, necessidade da divina misericórdia!
Depois da partida do Papa, Clara disse as freias que lhe acorreram ao redor do leito:
– Minhas filhas, precisamos agradecer a Deus mais do que nunca! Porque, esta manhã, eu o recebi sob as espécies eucarísticas, e agora fui reputada digna de ser visitada pelo seu Vigário na terra!
Desde esse momento, as freiras não mãos deixaram o leito de Clara. Inês, que, devendo dirigir o convento de Monticelli, perto de Florença, havia trinta anos que vivia separada da irmã, veio também, e ajoelhou-se, para rezar, próximo ao leito dela.
Os dias passavam e a
moribunda estava sempre no mesmo estado: havia mais de duas semanas que não comia absolutamente nada, e, contudo, sentia-se ainda bastante forte. Como o seu confessor a exortasse à paciência, ela respondeu:
– Desde que o nosso saudoso pai São Francisco me descobriu as infinitas perfeições e os atrativos de Cristo, nenhuma doença me pareceu pesada, nenhuma pena demasiada cruel, nenhuma penitência excessivamente dura!
Depois disse aos seus amigos da Porciúncula, Leão, Angelo e Junípero, que se aproximassem e lhe lessem a história da Paixão de Nosso Senhor. Os três aproximaram-se. Frei Junípero, comunicou-lhe o seu tesouro das “novas de Deus”, enquanto Leão, ajoelhado ao pé do leito, banhava de lágrimas o leito da moribunda, e frei Angelo procurava consolar as freiras chorosas.
Após alguns momentos de silêncio solene, clara murmurou em voz baixa:
– Vai, ó minha alma, vai em paz, pois tens um guia seguro que te mostra o caminho. Aquele que te criou, também te santificou e te amou, e não cessou de vigiar sobre ti com toda a ternura de uma mãe pelo filho único do seu amor. E vós, Senhor, sede bendito por me haverdes criado!
Depois calou-se de novo e ficou imóvel, com os olhos abertos, como se escutasse uma resposta.
– A quem falais? Perguntou-lhe uma freira.
– À minha alma! – respondeu solenemente Clara.
E, pouco depois, acrescentou:
– Vês, minha filha, o Rei da Glória que eu estou contemplando?
Os olhos de todos velados de lágrimas, olhavam para a moribunda, Mas Clara já não os vê. Sem se cansar, mantém o olhar fixo na porta da celinha. E eis que a porta se abriu e ela viu uma fila de virgens que se adiantavam, vestidas de branco, com uma coroa de ouro na cabeça. E uma dessas virgens vencia em esplendor e dominava todas as outras. O seu diadema, ornado de pedras preciosas, era o mais fúlgido, e toda a sua pessoas irradiava uma luz doce e viva que encheu a cela.
A bela dama luminosa atravessou as linhas das suas companheiras para chegar até o leito de Clara, e ali, curvou-se sobre ela e recobriu-a toda de um véu esplendíssimo. E foi assim, sustentada nos braços de Maria, e sob o escudo do manto imaculado da Rainha do Céu, que a alma de clara subiu à mansão da eterna bem-aventurança. O corpo da morta ficou na caminha, e entre os dedos enrijados ela segurava a bula do Papa, escrita dois dias antes, com a confirmação solene e definitiva do direito, para Clara e suas monjas, de viverem conformemente ao ideal franciscano
O convento de São Damião subsiste ainda, e é-nos mostrado quase como o conhecera Clara e suas monjas. Ali revemos o minúsculo coro, onde as primeiras clarissas rezavam o breviário. Ao longo das paredes vêem-se sempre os assentos todos gastos, grosseiramente trabalhados, e, no centro, uma estante lixada, a antiga estante com os grandes antifonários, abertos na página da festa do dia.
Além disto, énos mostrada a sineta de que Clara se servia para reunir as freiras para a oração, o copo de estanho onde ela bebia após receber o Santíssimo Sacramento, o breviário que frei Leão escrevera para ela, e cujas páginas cada dia, a sua mão folheava e, depois ainda, um relicário todo de cobre, a ela dado pelo Papa Inocêncio IV.
Há ali o refeitório, onde Gregório IX foi hospedado por irmã Clara, e onde, por odem do Papa ela benzeu os pães, sobre cada um dos quais, à medida que ela os benzia, desenhava-se miraculosamente uma cruz. E, depois de visitarmos a cela, estreita e baixa, de Clara, podemos ver ainda o seu chamado jardim, um pequeniníssimo talude, com umas poucas, entre dois muros.
Mas, do minúsculo terraço que encerra esse jardim, descortinamos, por entre aqueles muros, o magnífico panorama de toda a região umbra: vemos Rivo Torto, a Porciúncula, as estradas brancas, as campinas semeadas de olivedos, e a pequena cidade de Betona, lá ao longe, entre as montanhas azuis.
No jardim, depois, há um murinho cheio de terra, onde ainda desabrocham aquelas flores que eram as únicas amadas e cultivadas pela Santa: o lírio, símbolo da pureza, a violeta, símbolo da humildade, e a rosa, símbolo no nosso amor a Deus e aos homens.
Santa Clara morreu no dia 11 de Agosto de 1253. À imitação de São Francisco, fez o testamento, onde contou a sua conversão e recomendou às irmãs, sobre todas as coisas, o amor à pobreza, seguindo o espírito do seráfico pai.
Logo que se soube da morte da seráfica filha do Poverello, toda a cidade de Assis correu, aflita, incontida, a São Damião, e o prefeito foi obrigado a colocar guardas para que não lhe arrebatassem o corpo.
Os frades menores começaram o ofício dos mortos e o Papa quis que se cantasse o das virgens, como para canonizar a Santa antecipadamente, mas o cardeal de Óstia fez ver que não se devia “andar tão depressa”.
Assim, foi recitado o ofício e a missa dos mortos e o mesmo cardeal fez um sermão sobre o desprezo das vaidades do mundo.
Como não se julgou conveniente deixar o corpo de Santa Clara em São Damião, fora da cidade, levaram-no a São Jorge, onde o Pobrezinho de Assis, tinha sido enterrado antes, e aquele cortejo, honrado com a presença do Papa e dos cardeais, fez-se ao som das trombetas, com toda a solenidade possível.
Canonizada por Alexandre IV, em 1255, cinco anos depois o corpo foi solenemente transferido para São Damião, para o novo mosteiro que se tinha construído na cidade, a mandado do Papa.
Em 1265, alevantou-se uma igreja que tem o nome da santa virgem fundadora das clarissas. O Papa Clemente V consagrou-lhe o altar-mor, sob a invocação da Santa, e as relíquias da filha de Favorino e de Ortolana ainda hoje ali se conservam (Acta SS.. 11 Aug.).
Fotos: santiebeati.it (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XIV, p. 346 à 352 – 369 à 377)
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