A LITURGIA É TODO culto público da Igreja, dado a Deus. A Liturgia é a forma que Deus escolheu para agir na História (perpetuar na História o Mistério da salvação) desde Pentecostes até a Parusia (fim do tempo da Igreja e fim da História). Estas definições estão carregadas de significado, principalmente neste tempo oportuno de conversão que é a Semana Santa, tempo propício para a volta para Deus…
“A Liturgia, pela qual, especialmente no Sacrifício Eucarístico, ‘se opera o fruto da nossa Redenção’, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o Mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos. A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só Pastor.”[1]
Pode-se notar que a Liturgia é parte integrante da vida do católico, com a participação em todos os Sacramentos da Igreja e também na vivência da oração conjunta com a Santa Igreja em todo mundo. Logo, vivenciar bem a Semana Santa, para um católico, é participar com fruto da Liturgia e ter consciência de que ele não está sozinho e que faz parte do Corpo de Cristo(!). Sendo assim, deve purificar-se através da penitência, da oração e das esmolas – tudo aquilo que a Quaresma nos ajuda a praticar, – visto que, como ensina São Paulo Apóstolo na sua carta aos Gálatas (6, 14): “Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”.
Para um católico, os 7 dias da semana são importantes, porém, o ápice de toda a semana é o Dia do Senhor, o domingo! É do Domingo (do latim Dominus Dei, o dia Santo do Senhor) e do Augusto Sacrifício do Altar que o fiel católico consegue forças para enfrentar mais uma semana que se segue. Compreendamos que o calendário litúrgico também segue uma linha temporal, que tem seu ponto “gravitacional” justamente na Páscoa, assim como a semana comum do católico tem seu acontecimento mais importante no Domingo!
Ensina com palavras fortes São Luiz Maria Gringnon de Montfort:
“Que grande honra serdes membros de Jesus Cristo! Uma honra, porém, que exige também a nossa participação no carregamento da cruz. Se a cabeça é coroada de espinhos, será que os membros quereriam coroar-se de rosas? Se a cabeça está escarrada e coberta de lama a caminho do Calvário, será que os membros deveriam cobrir-se de perfumes num trono real?”[2]
É inevitável seguir ao Cristo sem carregar a Cruz, e todo aquele que não a carrega com Cristo não alcançará a Glória! Eis o convite que a Santa Igreja enfatiza para nós na Semana Santa: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Que possamos mergulhar nos Mistérios do sofrimento salvífico de Cristo e não somente contemplá-lo, mas também participarmos deste sofrimento que gera vida e salvação, que gera Ressurreição.
Para aprender mais sobre a importância deste Tempo Litúrgico, podemos conferir os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica:
“A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar com uma comemoração sagrada, em determinados dias do ano, a obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou Domingo, celebra a memória da ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano, na Páscoa, a maior das solenidades, unida à memória da sua bem-aventurada paixão. E distribui todo o mistério de Cristo pelo decorrer do ano […]. Comemorando assim os mistérios da Redenção, ela abre aos fiéis as riquezas das virtudes e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar de algum modo presentes a todos os tempos, para que os fiéis, em contacto com eles, se encham da graça da salvação.
O povo de Deus, desde o tempo da lei mosaica, conheceu festas em datas fixadas a partir da Páscoa, para comemorar as acções portentosas do Deus Salvador, dar-Lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e ensinar as novas gerações a conformarem com elas a sua conduta. No tempo da Igreja, situado entre a Páscoa de Cristo, já realizada uma vez por todas, e a sua consumação no Reino de Deus, a liturgia celebrada em dias fixos está toda impregnada da novidade do Mistério de Cristo.”[3]
a) Missa da Ceia do Senhor e do Lava-pés
A Liturgia mostra que nesse dia, quando Cristo se oferece em Sacrifício, os fiéis também devem se oferecer com Cristo. No Ofertório, Cristo se oferece, mas não somente isso, pois, nós também nos oferecemos com Ele. Somos convidados a iniciar o Tríduo Pascal contemplando o Amor de Deus para conosco, amor esse manifestado no próprio Cristo que se entrega sem reservas. Não fomos nós que amamos primeiro, mas sim Deus que veio ao nosso encontro, como ensina São João em sua primeira carta (4, 9-10):
“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados.”
c) Sábado de Aleluia ou Sábado Santo
Eis o que é a Páscoa: a leitura, a narração e a proclamação das maravilhas de Deus na história de cada um, para que assim possa enxergar o Dom invisível de Deus no nosso hoje, no hoje da Sua Santa Igreja e no hoje das nossas próprias vidas. Assim, a Páscoa é o memorial da caminhada de Cristo rumo ao Céu, e também um memorial da caminhada de cada cristão que peregrina sobre a Terra lutando para chegar ao Paraíso.Nunca nos esqueçamos da meta, que é alcançar a salvação e ressuscitar com Cristo para a nova vida, para a vida eterna! Que um dia possamos dizer com São Paulo: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2Tm 4, 6 – 8).
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Notas e referências:
1. Sacrosanctum Concilium, disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html
2. Carta aos amigos da Cruz. São Luis de Montfort. Cleófas, 2007, p. 45
3. Catecismo da Igreja Católica, capítulos 1163-1164, disponível em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s1cap2_1135-1209_po.html
4. O Ofício das Trevas, disponível em: http://www.arautos.org/noticias/35484/O-oficio-de-trevas.html
5. Para aprofundamento: ‘Tríduo Pascal’, disponível em: https://padrepauloricardo.org/cursos/triduo-pascal
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