Meditações – Mês do Sagrado Coração de Jesus – 13º dia

Meditações – Mês do Sagrado Coração de Jesus – 13º dia

Vamos ao Getsemani; ali acharamos o Coração de Jesus cheio de temor.   

O suor de sangue que Nosso Senhor teve no Jardim das Oliveiras, não se pode explicar senão por um violento aperto do coração, que suspendeu a corrente do sangue e o forçou a derramar-se fora; e este aperto de Coração de que Jesus foi então salteado, não provinha com certeza de outra causa que das penas interioresde temor, desgosto e tristeza, que ele padeceu, segundo a narração dos evangelistas: Caepit pavere et taedere… et maestus esse. (Mar 14,33)
   O temor lhe vinha da vista de seus tormentos; o desgosto, da inutilidade de seus padecimentos para muitas almas; e a tristeza, da imensa dor que ele tevede nossos pecados. O Coração de Jesus começou então a sentir grande temor da morte e dos tormentos que devia dali a pouco sofrer; Caepit pavere. Mas como! Não era ele quem se oferecera de bom grado a tais padecimentos? Não era ele que tinha tão ardentemente desejado o tempo de sua Paixão, como pouco antes havia declarado? Como entãoestá agora tomado de tão vivo temor da morte, que chega até a pedir a seu Pai para que lhe poupe de tão dolorosa angústia: Meu Pai, se é possível passe de mim este cálice (Mat 26,4).
    Primeiro, Jesus Cristo quis por este meio nos mostrar que ele era verdadeiramente homem, diz o venerável Beda. Este Senhor cheio de ternura não recusava de modo algum morrer: ele aceitava voluntariamente a morte para nos provar seu amor; mas, para que os homens não pensassem que ele tinha tomado um corpo fantástico, como certos hereges disseram nas suas blasfemias, ou que, pela virtude de sua divindade, morrera sem dor alguma, dirigiu a oração a seu Pai não para ser atendido, mas para nos fazer compreender que ele morria como homem com grande horror da morte. Em segundo lugar, este temor provinha da previsão dos horríveis tormentos que lhe eram preparados. Jesus previa que seria atormentado em todos os seus sentidos; no tato, todas as suas carnes devendo ser laceradas; no paladar, pelo fel e vinagre; no ouvido, pelas blasfêmias e irrisões; na vista, vendo sua mãe que assistiria a sua morte. Previa que todos os seus membros seriam atormentados: sua cabeça sagrada, pelos espinhos; suas mãos e seus pés, pelos cravos; seu rosto; pelas bofetadas e escarros, e todo o seu corpo pelos açoites, exatamente como Isaias predissera. Este profeta tinha anunciado que nosso Redentor seria, na sua Paixão, semelhante a um leproso, cuja carne não tem parte alguma e causa horror ver-se, não oferecendo ao olhar senão chagas das cabeças aos pés. (Is 53). Ele previa então que ia tornar-se o Homem das dores. Também pode-se aplicar justamente ao Coração de Jesus este texto de Jeremias: Vossa aflição é semelhante ao mar. (Thren 2,13). Assim como todas as águas vão se lançar no mar, assim também reuniram-se no Coração de Jesus,para o afligir, todos os padecimentos dos enfermos, todas as austeridades dos anacoretas todos os tormentos dos mártires. Ele foi saciado de dores, de modo que podia dizer a seu Pai estas palavras do Profeta Rei: Meu Pai, fizestes passar sobre mim todas as ondes de vossa ira.
    E em que condições se achava o Coração de Jesus entregue as imensas angústias de então? Apesar de todas as repugnâncias da natureza, ele submetia-se inteiramente a vontade de seu Pai: Meu Pai, não cessava de dizer ele, faça-se a vossa vontade e não a minha. Quando padecemos aflições de espírito, e Deus nos priva de sua presença sensível, unamos nossa pena a do Coração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Algumas vezes o Senhor se oculta aos olhos das almas dele mais amadas, mas não se aparte de seu coração, e continua a suste-las interiormente pela graça. Jesus não se ofende se lhe dizemos, nesse abandono, o que eme mesmo dizia no Jardim de Getsemani: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice! Mas então é necessário ajuntar logo com ele: contudo faça-se a vossa vontade e não a minha! E se a angústia continua, é necessário também continuar a repetir este ato de resignação, como Jesus, durante as três horas de sua agonia: Ele orou pela terceira vez, repetindo as mesas palavras. Os atos de resignação são os atos de amor mais caros e agradáveis ao Sagrado Coração de Jesus. São Francisco de Sales diz que Jesus, quer se mostre quer se oculte, é sempre igualmente amável. Enfim, quem merece o inferno e se vê livre dele, só uma coisa tem que dizer: Senhor, louvarei vosso nome em todo o tempo, não sou digno de consolações; concedei-me a graça de vos amar, e consinto em viver no meu padecimento pelo tempo que vos aprouver. Ah! Se os condenados pudessem, nos seus tormentos, conformar-se com a vontade de Deus, seu inferno deixaria de o ser.
Prática
Habituar-me-ei a repetir, em todas as contrariedades que me sobrevierem, o que dizia o Coração agonizante de Jesus: Faça-se a vossa vontade, ó meu Deus, e não a minha.
Afetos e Súplicas
    Divino Redentor meu, Vós estais nas agonias da morte, e orais; dizei-me: por quem tanto orais? Ah! Se orais nesse momento não é de tando para vós como para mim: vós ofereceis ao eterno Pai vossas poderosas súplicas unidas as vossas dores; para obterdes para mim, miserável pecador, o perdão de meus pecados. Terno Salvador meu, como vosso Coração divino pôde amar tanto a quem tanto vos ofendeu? Como pudestes aceitar tantos padecimentos por mim, vendo desde então a ingratidão que eu usaria convosco? Eu vos suplico, ó meu Coração afligido de meu bom Senhor, fazei-me participar da dor que então sentistes de meus pecados; o horror que agora experimento uno ao que então experimentastes no Jardim das Oliveiras. Não olheis para meus pecados, o inferno seria muito pouco para puni-los; considerai os tormentos que padecestes por mim. Ó Coração cheio de amor de meu Jesus, vós sois meu amor e minha esperança. Eu vos amo de toda a minha alma e quero vos amar sempre. Ah! Pelos merecimentos do desgosto e da tristeza que padecestes no Jardim, concedei-me o fervor e a coração de trabalhar para vossa glória. Pelos merecimentos de vossa agonia, dai-me a força de resistir a todas as tentações da carne e do inferno; fazei-me a graça de nunca cessar de me recomendar a vós, e repedir sempre seguindo vosso exemplo: Meu Pai, faça-se a vossa vontade e não a minha!
Oração Jaculatória
Ó Coração amante de Jesus, fazei que a minha vontade seja inteiramente unida a vossa.

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