Meditações – Mês do Sagrado Coração de Jesus – 27º dia

     O padre Baltasar Alvares chorava vendo os palácios dos grandes, cheios de pessoas que vão fazer corte a um homem de quem esperam alguma miserável satisfação, ao passo que ficam abandonadas as Igrejas onde habita o soberano Senhor do mundo.

Que triste solidão ao redor de nossos tabernáculos!

          Eu sou, nos diz ele no livro dos Cânticos, eu sou a flor dos campos e o lírio dos vales. Ele se chama o lírio dos vales, para nos dar a entender que é humilde de coração, e só se deixa achar pelos humildes.

Ele se chama flor dos campos, porque é acessível a todos. As flores dos jardins são reservadas e cercadas de muros; nem a todos é permitido colhe-las nem vê-las. As flores dos campos, ao contrário, são expostas aos olhos de todos que passam, e cada um pode tomá-las: assim também está o Coração de Jesus ao alcance de todos os que desejam achá-lo.

          Quando se quer entrar nos palácios dos grandes, encontra-se muitas vezes à porta um guarda que diz : “Não é hora!”… mas quando se quer entrar no Coração de Jesus, basta dirigir-se a Maria; no mesmo instante a audiência é dada.

          Vinde a este Coração tão acessível, que está no tabernáculo para vos enriquecer, porque é tão bom, deseja mais nos dar suas graças do que nós recebê-las. De outro lado, no Santíssimo Sacramento é que ele atende mais de vontade nossos rogos. Vinde a este Coração tão rico e tão bom: ele lá está para vos consolar.

          Santa Teresa dizia que este Rei de glória se ocultou sob as espécies do pão deste Sacramento do altar, e velou assim sua majestade para nos animar a nos aproximarmos de seu adorável Coração com mais confiança. Aproximemo-nos, pois, dele com muita confiança, e peçamos-lhe suas graças.

           Ah! se experimentarmos este amor contido no Santíssimo Sacramento, que fica o dia todo esperando nossa visita de amor, com certeza desejaríamos ficar ali por toda eternidade! Se, pois, queremos agradar ao Coração amantíssimo de nosso Deus, procuremos entreter-nos com Ele tantas vezes quanto pudermos, e falemos de nós, com toda a confiança possível; Ele se agradará de nós e bondosamente nos responderá.

Jesus não fará ouvir sua voz de modo exterior e sensível, mas falará interiormente, numa linguagem que nosso coração compreenderá bem, uma vez que nos separarmos do comércio das criaturas para tratar de coração a coração com nosso Deus!

          Então Ele nos falará pelas inspirações, pelas luzes interiores, pelos testemunhos de bondade, pelos toques suaves que penetram o coração, pelas seguranças de perdão, pelos penhores de paz, pela esperança da felicidade eterna, pelas alegrias intimas, pelas carícias de sua graça, pelos abraços afetuosos. Jesus nos fará ouvir as palavras de amor, que sempre compreendem as almas que o buscam e são por Ele amadas. Numa palavra, na solidão das Igrejas, acharemos o Coração do Verdadeiro e Único Eterno Amigo.

    Não deixemos então de agora em diante passar dia algum sem irmos a uma Igreja para nos entreter algum tempo ainda que seja um quarto de hora só, diante do Santíssimo Sacramento. Oh! quão delicioso é ficar ao pé d’um altar com fé!

Oh! Quão salutar e consolador é derramar o próprio coração no Coração de Jesus!

    O Coração de Jesus é fiel e constante no seu amor, pois que nunca deixa nossas Igrejas, apesar dos ultrajes que recebe nelas. Porque eu não seria constante no meu? Se ele o merece hoje, porque não amanhã e depois de amanhã? Visita-lo-hei cada dia, e para lhe agradar mais, darei a mesma homenagem a sua santa Mãe e a São José.

    Permiti que eu vos fale, ó Coração amantíssimo de meu Jesus, de onde saíram todos os Sacramentos, e principalmente este Sacramento de amor! Quisera vos dar tanta honra e glória quanto rendeis nas Igrejas ao Pai eterno. Sei que vosso amor para comigo, neste altar, é o mesmo de que me destes prova quando sacrificastes vossa vida na cruz num abismo de dores. Ó Coração adorável, esclarecei aqueles que não vos conhecem, e fazei que eles vos conheçam. Livrai por vossos merecimentos, ou ao menos aliviai nas suas penas as almas do purgatório, que são já vossas esposas eternas. Eu vos adoro, agradeço e amo, com todas as almas que, neste momento, vos amam na terra e no céu. Ó Coração puríssimo, purificai meu coração de todo o apego às criaturas, e enchei-o de vosso santo amor. Ó Coração terníssimo, tornai-vos tão por completo, senhor de meu coração, que ele seja todo para vós, e possa eu dizer: Nada é capaz de me separar do amor de Deus que é um em Jesus Cristo.  Ó Coração santíssimo, gravai no meu coração as penas dolorosas de vossa vida mortal; vós as sofrestes por mim durante tantos anos e com tão grande amor! Isto me fará desejar, ou ao menos suportar com paciência por amor de vós todas as penas desta vida.

Coração humilde, ensinai-me vossa humildade. Coração mansíssimo, comunicai-me vossa mansidão. Tirai de meu coração tudo o que vos desagrada; convertei-o tão perfeitamente a vosso amor, que ele não queira e não deseje senão o que quereis. Fazei, em suma, que eu viva unicamente para vos obedecer, amar e agradar. Reconheço que não me é possível amar-vos como devo: vós me haveis cumulado de tantos benefícios; pouco é que eu me sacrifique e me consuma inteiramente por vós.

Ó Amadíssimo de meu coração, quanto desejo que todos os homens conheçam a ternura do amor que lhes tendes.