Dize-me, cruel Herodes: porque mandas matar, porque sacrificas tantos meninos inocentes? Para satisfazer tua ambição de reinar? Responde-me: qual é a causa de tuas inquietações? Qual o motivo de teus sustos? Temes que o Menino recém-nascido te arrebate a coroa? Ah! Este Rei a quem temes, não veio combater os poderes da terra pela força das armas, veio reinar nos corações dos homens, sofrendo e morrendo por amor deles.
O inferno, que se servia da crueldade de Herodes para fazer morrer Jesus Cristo e aniquilar a obra da Redenção, foi vencido pelo mesmo meio que ele empregou para triunfar: porque a fuga de Jesus Cristo veio começar a ruína do império do demônio no mundo. Refere-se com efeito, que ao entrar o Salvador no Egito, todos os ídolos desse país foram destruídos. Até então o mundo tinha estado numa noite tenebrosa de ignorância e iniquidade. O verdadeiro Deus era apenas conhecido num só ponto do globo terrestre, isto é, na Judeia. Fora dali adoravam-se como divindades os demonios, as bestas e as pedras. Por toda parte reinava a noite do peccado que cega as almas, enche-as de vicios, impede-as de ver o miserável estado em que vivem, inimigas de Deus, condenadas ao inferno. Espetáculo bem triste para o Coração tão bom do divino Messias que acabava de nascer ! Também quis nosso Salvador começar desde sua infância a despojar o demônio do império que ele tinha sobre o homem, como Isaías havia predito. Jesus desceu então ao Egito para abater esse tirano, e livrar os homens da desgraçada escravidão na qual gemiam, a fim de que, saindo das trevas da morte e sacudindo o jugo odioso que os oprimia, pudessem conhecer a estrada da salvação e dar-se ao serviço do seu verdadeiro e legítimo Senhor, que os amava como pai, e, de escravos de Lucifer, queria faze-los filhos seus muito amados.
Quanto a nós, que temos a felicidade de ter nascido depois da redenção e no seio da verdadeira religião, não cessemos de pedir a graça de amarmos Jesus com todo o nosso coração, pois que todos os ídolos das afeições terrenas desaparecem da alma quando o amor de Jesus entra nela. O amor divino nos despoja de tudo. Um grande servo de Deus dizia: O amor para com Deus é um amável roubador que nos despoja de todas as coisas terrestres.
Um certo amigo de Deus, tinha distribuído aos pobres tudo o que possuía: perguntaram-lhe um dia, quem o havia reduzido a tão grande desapego e pobreza; tirando logo do seu alforge o livro dos evangelhos, disse : Eis aqui Aquele que me tirou tudo.
Numa palavra, Jesus Cristo, sendo o primeiro a nos dar o seu Coração, quer com razão possuir sozinho o nosso; ele não consente rivais Santo Agostinho refere que o senado romano recusou a adoração a Jesus Cristo, sob pretexto, de que ele era um Deus soberbo, que quer ser exclusivamente honrado. De feito, como Jesus é nosso único Senhor, é com toda a justiça que pretende ser o único objecto de nossas adorações e do nosso mais puro amor.
O ídolo que uma alma devota do Sagrado Coração deve antes de tudo abater, é o amor próprio, que se insinua por toda a parte, até nas coisas mais santas, representando-nos sem cessar nossa própria glória ou nossa própria satisfação. Este detestável inimigo nos faz perder o merecimento das nossas mais belas obras. Necessário nos é, portanto, combatê-lo sem cessar, contrariando nossos gostos e inclinações, por exemplo : privando-nos de tal divertimento, por isso mesmo que ele nos agrada, prestando serviço a tal pessoa precisamente porque ela nos parece desagradável, tomando tal meio de nos corrigir indicado pelo confessor, e isto porque nos repugna o emprego d’este meio.
Prática
Não cessarei, em todas as minhas orações, de pedir ao Coração de Jesus o grande dom do amor divino. Quando possuir este tesouro, verei minha alma despir-se pouco a pouco de seus defeitos e enriquecer-se com as mais belas virtudes.
Afetos e Súplicas
Amadíssimo Redentor meu, quem me dera possuir os corações de todos os homens, e com todos eles vos amar quanto mereceis! Porque, ó Deus de amor, tão poucos há que vos amam nesta terra, na qual derramastes todo vosso sangue por amor dos homens? Eu vim ao mundo, dizeis vós, para acender nos corações o fogo de meu amor, e só desejo vê-lo aceso. Eu vos peço, pois, que abraseis no vosso amor o meu coração e os de todos os que estão sobre a terra. Ó Deus, todo bondade todo amor, ó amabilidade suprema, ó amor infinito, fazei-vos conhecer, fazei-vos amar de todos os homens. É verdade que, no passado, mais do que todos os outros, eu fiz pouco caso do vosso amor; mas hoje, esclarecido por vossa luz e ferido por tantos dardos de amor que me haveis lançado de vosso coração ardente de ternura, não quero mais vos pagar com ingratidão, como fiz outrora; ao contrário, quero vos amar com todas as minhas forças, quero ser todo abrasado de amor para convosco; este é o meu único desejo. Não busco nem as consolações, nem as doçuras no vosso amor; delas não sou digno, e nem vo-las peço; basta-me ter vosso amor. Oh! Eu vos amo, meu soberano Bem, eu vos amo, meu Deus, meu tudo. Ó Maria, minha esperança, rogai por mim, e atrai-e ao amor do Coração de Jesus.
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