A riqueza de Deus é infinita e inexaurível, porque não depende de outro : sua riqueza é ele mesmo, Bem Infinito, eis ai porque lhe dizia Davi: Vós sois meu Deus, necessidade nenhuma tendes do que eu possuo. Pois bem, este Deus tão rico fez-se pobre a fim de nos enriquecer.
Sim, a bondade ao Coração de Jesus competia mostrar sua predileção à pobreza, para fazer reinar o desapego nos nossos corações infatuados dos bens deste mundo, que não são mais que lodo e pó. Nascido na pobreza, o Senhor foi pobre toda a sua vida, indigente…
Mas onde ele sofreu principalmente da pobreza foi no Egito. Quão digna de lastimas é a família exilada, que se vê obrigada a partir para o desterro sem recurso algum! S. Boaventura considera compadecido a Maria e José fazendo esta longa e penosa viagem, carecendo de tudo e levando em seus braços o santo Menino, que muito teve que sofrer por causa de sua pobreza e pergunta: Onde achavam eles o nutrimento? onde passavam a noite? Mas com que podiam alimentar-se, senão com um pouco de pão duro? Onde podiam passar a noite no deserto, senão sobre a terra nua, ao relento ou sob uma árvore?
Ah! quem encontrasse no caminho estes três grandes personagens, por quem os teria tomado , senão por três pobres mendigos? E no Egito, estrangeiros, sem parentes, sem amigos, quanto não sofreram de sua indigência, durante os sete anos que lá passaram! Segundo S. Basilio, com grande custo é que eles arranjaram o necessário pelo trabalho de suas mãos. Ludolpho de Saxe afirma que mais d’uma vez o Menino Jesus, apertado pela fome, pediu um pouco de pão à sua mãe, e Marla teve de responder que não tinha.
Não somente nosso divino Salvador foi pobre, mas amou a pobreza e tanto a amou, que se pode dizer que ela era a esposa de predileção do Coração de Jesus. A pobreza não existia no céu diz S. Bernardo ; ela abundava na terra mas o homem ignorava seu valor. Que faz o Filho de Deus? Amando esta pobreza desprezada, quis descer do céu, a fim de esposa-la e no-la tomou por este modo preciosa. Seu fim, nascendo pobre, foi levar-nos, por seu exemplo, a desapegar nossos corações dos bens terrenos, e consagrá-los inteiramente ao amor divino.
Nós todos somos viajantes na terra, onde apenas estamos de passagem, diz S. Agostinho. Certamente, quem está num lugar só de passagem, não se apega a objeto algum, pois sabe que deve logo deixar tudo. Ah! Se os homens não esquecessem que são viajantes neste mundo e caminham para a eternidade, quem poderia apegar-se aos bens de cá e pôr-se assim em perigo de perder os do céu? Para que servem os tesouros, as riquezas ? Para que servem bens que não podem contentar nosso coração? Que levaremos conosco na morte? O verdadeiro tesouro da alma é Deus. Ora, Deus não pode ser o tesouro da alma que conserva apego desordenado aos bens da terra.
Eis aqui porque Davi fazia a seguinte suplica: Senhor, purificai meu coração dos afetos terrenos. Uma vez achado este tesouro, pode-se dizer com a esposa dos Cânticos: Achei Aquele que meu Coração ama. Perca-se tudo mais: Deus só me basta. Feliz perda, a que sofremos quando sacrificamos tudo, para contentar vosso Coração, ó Deus de minha alma, ó Jesus, soberano Bem, infinitamente mais amável que todos os bens!
Prática.
Para honrar a pobreza de Jesus, nada invejarei aos ricos ; e se tiver alguma fortuna, não me apegarei a ela, mas farei numerosas obras de caridade.
Oração Jaculatória
Coração de Jesus, tirai de meu coração tudo o que não vos é agradável.
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