São Lourenço Justiniano Primeiro Patriarca de Veneza 05 de Setembro

São Lourenço Justiniano Primeiro Patriarca de Veneza 05 de Setembro

Depois de ter sido religioso exemplar, foi modelo de bispo e de patriarca. Venerado já em vida como santo.

Ilha de São Jorge onde o santo foi bispo

 

Os Justiniani de Veneza, que se diziam descendentes dos imperadores de Bizâncio, possuíam ricos palácios, tesouros magníficos, terras, nobreza, muita história e vários santos na família.

Bernardo Justiniano, casado com Querina, dama de igual nobreza, foi o pai de São Lourenço, que nasceu no dia 1º de julho de 1381. Celebrava-se então em Veneza a reconquista da ilha de Chioggia do domínio dos genoveses e havia grande alvoroço na cidade. Talvez levada por esse sentimento patriótico, Querina, ao saber que tinha dado à luz um filho, exclamou: “Deus e Senhor meu, disponde que este menino seja um dia o sustentáculo de nosso país, e o terror de seus inimigos.” Foi-lhe concedido muito mais, pois Lourenço Justiniano se tornou uma das maiores glórias não só da República Sereníssima, mas de toda a Igreja, e terror dos espíritos infernais.

Entretanto, antes que isso sucedesse, Querina teve que suportar uma grande dor: seu marido deixou-a viúva aos 24 anos, com cinco filhos pequenos. “Apesar de sua juventude, ela não pensou senão em santificar-se em seu novo estado, resolvida a não mais mudá-lo. Considerou-se devotada à penitência e ao retiro, e não se ocupou mais senão do jejum, da prece e das boas obras. A educação de seus filhos foi também um de seus principais cuidados.”(1)

Essa mulher forte logo notou em Lourenço uma docilidade pouco comum e uma grandeza de alma extraordinária para sua idade. Em vez dos jogos infantis, o menino procurava entreter-se com pessoas razoáveis e a ocupar-se de coisas sérias.

Um misterioso encontro com a Sabedoria

Quando adolescente, Lourenço “era magnânimo, entusiasta, sonhador. Tudo respirava elegância em sua pessoa, em seus gestos, em seus costumes. Como todos os de sua raça, sentia o anelo de coisas grandes, a ambição do irrealizável, do cavalheiresco”.(2) Sua mãe, para premuni-lo contra o orgulho, às vezes chamava-lhe a atenção. E o borbulhante rapaz respondia rindo: “Mamãe, não tenha medo. Ainda vai me ver convertido em um santo.”

Foi então que, aos 20 anos, Lourenço teve uma visão que mudou sua vida. Conta ele: “Eu era então como todos os demais. Com ardor apaixonado buscava a paz nas coisas exteriores, sem poder encontrá-la. Até que um dia apareceu-me uma virgem mais brilhante que o sol, cujo nome eu desconhecia. E, acercando-se de mim, disse-me com doces palavras e um sorriso: ‘Ó jovem amável. Por que derramas teu coração em tantas coisas inúteis? O que buscas com desatino eu te prometo se quiseres tomar-me por esposa’. Perguntei-lhe o nome e qualidade, e ela me disse que era a Sabedoria de Deus. Dei-lhe minha palavra sem vacilação alguma, e depois de abraçar-me, desapareceu.”(3)

Lourenço julgou então que o melhor meio de adquirir essa sabedoria seria na vida religiosa. Mas quis consultar um tio materno, cônego regular da Congregação de São Jorge, dita da Alga, cujo mosteiro ficava numa das ilhas de Veneza com esse nome. O tio, vendo nele a ação da graça, aconselhou-o a ir pouco a pouco se habitando em casa à prática das austeridades do claustro. O que o jovem fez com tanto rigor, que assustou seus parentes. Ele lhes repetia então: “Vejo que os mártires caminhavam para o Céu derramando o sangue, e os confessores macerando a carne. Não encontro outros caminhos.”

Com essa disposição ele foi recebido na congregação de São Jorge. Estava tão contente no mosteiro, que dizia ser por providência especial de Deus que os homens desconhecem a graça da vida religiosa, pois, se a conhecessem, não haveria ninguém tão néscio que não quisesse gozar semelhante dita. Com relação à mortificação dos sentidos, dizia também que “dar satisfação aos sentidos e querer ser casto, é como pretender apagar um incêndio com lenha”. Mortificava também a sede, dizendo: “Como poderemos sofrer os ardores do Purgatório, se agora não podemos suportar a pequena moléstia da sede?” Comparava a humildade a um curso d’água que é quase insignificante no verão, mas que no inverno, acrescido da água das neves derretidas, torna-se grande e volumoso. “Do mesmo modo, dizia, a humildade, ainda que escondida na prosperidade, deve tornar-se magnânima nos sofrimentos e nas tribulações.”

Uma mortificação bem dura para aquele virtuoso aristocrata consistia em pedir esmolas para o convento. Um dia em que devia passar por uma praça cheia de gente da sociedade, o religioso que ia com ele sugeriu que mudassem de caminho. Ele respondeu categoricamente: “Caminhemos valentemente. De nada nos adiantaria ter renunciado ao mundo com palavras, se não o desprezamos também com os fatos.”

Um seu biógrafo comenta: “Sempre era o mesmo. Ninguém o viu nem comovido pela ira, nem dissipado pela prosperidade, nem perturbado pelo prazer, nem encolhido pelo medo, nem acovardado pela dor.”(4)

De volta de uma viagem ao Oriente, um seu antigo companheiro de juventude quis tirá-lo a todo custo do mosteiro. Para isso dirigiu-se para lá com uma banda musical e um grupo de alegres rapazes. Entretanto Lourenço falou-lhe de tal modo do desprezo do mundo e da alegria que há no serviço de Deus, que o amigo acabou ingressando no mosteiro.

 

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Nomeado bispo de Castelo pelo papa Eugênio IV

Lourenço foi eleito prior geral de sua congregação. Nessa qualidade, redigiu suas constituições definitivas, esforçou-se pela observância regular, e fez muito para propagá-la. Consideravam-no por isso seu segundo fundador.

Em 1433 o Papa Eugênio IV nomeou-o bispo de Castelo, uma das várias ilhas na região de Veneza, obrigando-o a aceitar o cargo em nome da santa obediência. São Lourenço tinha então 52 anos.

Quando de sua nomeação episcopal, ainda ressoavam as duras palavras de Santa Catarina de Siena a respeito da situação da Igreja: “Há três vícios que atormentam sobretudo o coração de Cristo: a avareza, a luxúria e o orgulho. Esta tríplice corrupção invadiu a esposa de Cristo, quer dizer, os prelados, que só buscam as delícias da vida, o aumento do poder, e a abundância das riquezas.”(5)

São Lourenço convocou um sínodo diocesano do qual saíram sábias constituições, muitas delas para a reforma do clero. “Não esqueçamos que, um século mais tarde, um ex-frade alemão iria buscar pretextos para sua pseudo-reforma nos costumes decadentes dos eclesiásticos. Mas se deve também saber que na Espanha, na Itália, na França, e mesmo na Alemanha, os santos se anteciparam aos hereges pelo caminho reto. Os séculos XIV e XV são testemunhos da aparição de vários milhares de livros intitulados ‘De Reformatione Ecclesiae in capita et in membris’ (Sobre a reforma da Igreja na cabeça e nos membros).”(6)

Por isso, conquanto quisesse que seu palácio episcopal espelhasse o espírito de pobreza, São Lourenço o mantinha ordenado e limpo. Reduziu a cinco o número de seus domésticos, mas aumentou o número de sacerdotes e cantores em sua catedral, para dar maior esplendor ao culto litúrgico.

“Seguindo o exemplo da primitiva Igreja, que para o exercício da caridade lançava mão de viúvas de avançada idade e de virtude bem provada, o bispo de Castelo solicitou também o concurso voluntário e abnegado de umas tantas senhoras virtuosas para aumentar sua ação caritativa em favor dos necessitados. Ele as encarregava especialmente da delicada missão de descobrir as misérias envergonhadas. Deste modo, muitas famílias que antes viviam na abundância e passaram desta para uma terrível e humilhante estreiteza, puderam ser socorridas de modo oculto em momentos de apuro pelo caritativo e solícito prelado.”(7)

Um biógrafo assim se refere a Dom Lourenço: “Teve um dom maravilhoso: todos os que estavam com ele, depois se despediam com a alma cheia de gozo e de paz. Os bons o queriam, e os maus o respeitavam. Tudo nele inspirava o amor: sua conversação, seus olhares, seus movimentos, o que fazia, e mesmo o que dizia.” Pois São Lourenço Justiniano “sabia impor o dever sem tornar-se odioso; sabia ser austero sem deixar de ser amável. Juntava a prudência humana com a sabedoria divina, e seus conselhos eram oráculos para os que governavam a cidade”. (8)

O próprio doge Foscari irritou-se com São Lourenço; chamou-o ao palácio e intimou-o a cuidar das coisas da Igreja, deixando as ruas sob a vigilância da autoridade secular. O santo respondeu-lhe com tanta gravidade e mansidão que o doge lhe pediu perdão dizendo: “Ide, Padre, e cumpri vosso ofício.” E depois dizia a todos: “Não foi com um homem com quem falei, mas com um anjo.” Acrescentava depois o primeiro magistrado da República de Veneza que o único homem com quem mudaria sua alma era Dom Lourenço Justiniano. Por sua vez, o santo afirmava que o ofício de doge era uma brincadeira em comparação com o de bispo, por causa da responsabilidade com a cura das almas.(9)

Patriarca da Sereníssima República de Veneza


Mapa antigo da cidade de Veneza

 

Em 1451 o Papa Nicolau V suprimiu o patriarcado de Grado, nas vizinhanças de Veneza, bem como a diocese de Castelo, transferindo todos seus privilégios para a capital da Sereníssima República. Com isso São Lourenço tornou-se o primeiro Patriarca de Veneza.

Autor de muitas obras ascéticas, entre as quais A Árvore da VidaTratado acerca da humildadeA Vida SolitáriaDesprezo do mundo e, no fim da vida, Os Graus de Perfeição, o santo patriarca conduziu com o mesmo espírito sobrenatural e a mesma seriedade seu ofício durante os quatro anos em que exerceu o cargo.

Sua morte ocorreu no dia 8 de janeiro de 1456 e foi recebida por ele com o mesmo espírito: “Por que temer a morte se nosso adorável Redentor a padeceu por nós? Ó bom Jesus e bom Pastor, acolhei a ovelha extraviada que a Vós retorna! Vossa misericórdia constitui minha única esperança.” Seu corpo sem vida exalava suavíssimo aroma, permanecendo incorrupto durante os 67 dias que mediaram seu sepultamento, delonga esta causada pelas divergências quanto à escolha do local.

São Lourenço Justiniano foi canonizado por Alexandre VIII em outubro de 1690. Sua festa foi fixada pela Congregação dos Ritos para o dia 5 de setembro.

 

Giuliane Matos

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